Selfie em Foco 2019
A curadoria do Paraty em Foco promoveu a chamada Selfie em Foco 2019, visando expor autorretratos criativos enviados por fotógrafos. Foram selecionados 32 autorretatos, evidenciando a variedade de expressões e abordagens. Participam da exposição Adilson Andrade, Alexandre Suplicy, Ana Gilbert, Antonio Salaverry, Arthur Kolbetz, Bruna Vianna, Carolina França, Cecilia Bethencourt, Felipe Garofalo, Fernanda Lider, Flavia Baxhix, Gilma Mello, Khalil Charif, Lilian Nader, Luci Polina, Luciana Crepaldi, Marcos Marcolla, Maria Jose Benassi, Mariana Pêgas, Marisa Souza, Mazé Martins, Natalia Rocha, Paula Mello, Rafael Silva, Renato Lo, Roberta Sucupira, Rossana Medina, Tacila Torres, Tika Tiritilli, Veronica Machado Nani, Victor Garcia e Zé Renato. Local: Pátio da Casa da Cultura. De 18 de setembro a 14 de outubro.
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Paraty em Foco 20 Anos
Paraty em Foco 2024
BATE-PAPO PEF 2021 Por André Teixeira
BATE-PAPO COM ANTONELLO VENERI
Você é formado em Literatura e História Italiana. Por que a opção pela fotografia como profissão?
Durante a faculdade comecei a trabalhar numa revista da minha cidade, QuestoTrentino. A revista fazia, e ainda faz, muito jornalismo investigativo mas eu comecei escrevendo sobre música, teatro e cultura. Às vezes, nos meus artigos, precisava de fotos, e comecei a fotografar. Aos poucos, fotografei sempre mais e escrevi sempre menos. Ainda gosto de escrever artigos, acho que até me saio bem, mas minha praia é fotografar.
Você está desde 2009 no Brasil. O que te trouxe ao país? Em que cidades morou?
Percebi que preciso de círculos ou percursos com uma duração de mais ou menos 10 anos na minha vida. Intensos, radicais e ricos de novidades e conhecimentos. Quis me mudar pro Brasil porque queria mergulhar numa outra cultura. O percurso brasileiro, depois de 12 anos, está chegando ao fim.
Morei em Salvador, São Paulo, Fortaleza e Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. A cada ano, dependendo do trabalho, circulo por estes lugares, cheios de amigos e histórias para contar. O que me move é a curiosidade. A curiosidade, através da fotografia e do vídeo, se tornou o meu ganha-pão. Sou um curioso profissional.
Seu trabalho é documental, fortemente voltado para as questões sociais, para as periferias. Qual é o mercado para este tipo de fotografia? Você trabalha por demanda ou cria as próprias pautas e as oferece?
Meu trabalho é contar historias. Não necessariamente envolve periferias. A comunidade da Ladeira da Preguiça, em Salvador, fica no Centro Antigo e o Mucuripe, em Fortaleza, onde fotografo os jangadeiros, fica na beira-mar. Digamos que gosto de contar as historias de comunidades de pessoas, no sentido amplo da palavra. Agora, por exemplo, estou gravando um vídeo-documentário no sertão do Ceará. Acho bem interessante documentar as interações, as dinâmicas, os contrastes destas comunidades que resistem dentro de um contexto muitas vezes cruel e injusto, socialm e economicamente.
Trabalho para revistas e jornais, para ONGs e instituições, para agências de notícias, mas hoje em dia é muito raro alguém pautar uma matéria completa. Geralmente sou eu que faço a proposta de pauta. É um problema complexo. O fotojornalismo e a fotografia documental são vivos e ativos, mas há um número impressionante de pessoas fazendo isso. Ou achando que estão fazendo isso. E sempre menos dinheiro para quem trabalha nesta área.
Este é um tema que atrai muitos fotógrafos. Como se destacar em meio a tantas imagens, tantos trabalhos de ótima qualidade?
Tem que ter a atitude do Ulisses de Dante na Divina Comedia. O Ulisses arde de curiosidade, literalmente. E por isso fica no inferno. Mas a fala dele para os marinheiros vale uma vida ”Fatti non foste a viver come bruti, ma per seguir virtute e canoscenza”. Traduzindo: “vocês não foram feitos para viver como brutos, mas para seguir a virtude e o conhecimento”.
Na QuestoTrentino, você também escrevia as próprias matérias. Continua trabalhando dessa forma? Isso aumenta a aceitação de seus trabalhos no
mercado editorial?
Na outra resposta falei do Ulisses e de arder pelo conhecimento. Isso é ótimo, mas na pratica é preciso também saber ser “multitasking”,ou multifunção. Então, para este mercado de trabalho, além de fotografar, saber escrever e especialmente gravar vídeos ajuda muito e amplia as possibilidades profissionais.
Você acompanha o trabalho dos fotodocumentaristas brasileiros?
Que nomes destacaria?
Em relação à obra completa, duas fotógrafas, a Claudia Andujar e MaureenBisilliat produziram o melhor da fotografia brasileira. Sem dúvida. As fotos dos Yanomami e do sertão nordestino me emocionam. Entre os ensaios individuais destacaria o trabalho no bairro do Maciel, no Pelourinho, em Salvador do Miguel Rio Branco, e o da Serra Pelada, do Sebastião Salgado. Bauer Sá é o melhor retratista brasileiro. Na fotografia documental, há nomes excelentes. Penso logo no Lalo de Almeida, no Raphael Alvez e na Ana Carolina Fernandes.
Nestes mais de 10 anos de Brasil, acompanhando de perto essas periferias e sua população, você vê uma mudança nesse quadro de pobreza e injustiça?
Houveram algumas mudanças. É evidente. Mas avançar dois passos e retroceder um é frustrante. Nestes 12 anos de Brasil conheci e amei um país incrível, mas com uma falta de confiança nas instituições assustadora. A causa disso tem que ser buscada nas mesmas instituições: política, segurança,saúde, escola, burocracia.
Como a fotografia pode ajudar a reverter essa situação,
ou pelo menos colaborar para uma melhora, ainda que pontual?
A fotografia documental não vai mudar o mundo ma pode ser um convite à reflexão. Quem quer refletir pode mudar o mundo.
Tem conseguido produzir durante a pandemia? Que projetos vemdesen-volvendo? Teve que interromper ou adaptar algum deles por causa da Covid?
Durante a pandemia parou, ou se interrompeu, quase tudo o que não era relacionado com a pandemia. Mas eu fiz exatamente o que fazia antes, continuei a ficar na rua para documentar, com máscara e álcool gel.
Em março de 2020, comecei um grande projeto sobre os trabalhadores essenciais e informais na pandemia. Já foi publicado em vários jornais e revistas. Agora estou finalizando um documentário sobre o sertão e vou começar um trabalho sobre refugiados venezuelanos ao redor do Brasil.
Você é um dos convidados do PEF 2021, cujo tema é “Fotografia Solidária”.
O que pretende mostrar no Festival, e o que espera ver entre os
outros trabalhos?
Queria mostrar como a fotografia precisa de um retorno humano, de uma relação mais próxima entre fotógrafo e fotografado. Muitas vezes entramos nas vidas das pessoas fotografadas e saímos rápido. É importante manter viva a relação com quem fotografamos. Algumas das minhas fotografias tiveram até um impacto pratico, positivo, na vida das pessoas que fotografei. E uma das coisas que me orgulham mais nestes anos de Brasil é ter feito muitas exposições fotográficas fora das galerias e museus, mas nos lugares onde fotografei, com as e os fotografados participando ativamente.