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BATE-PAPO PEF 2022 Por André Teixeira

BATE-PAPO COM EVANDRO TEIXEIRA

Mestre do fotojornalismo brasileiro, Evandro Teixeira deve boa parte da fama à cobertura dos anos da ditadura militar, com fotos que sintetizaram, ainda que pela ironia, o conturbado momento que o país atravessava. Imagens como a das libélulas pousadas sobre baionetas ou da queda do motociclista, entre várias outras, viraram ícones dos chamados anos de chumbo e da luta pela democracia. Seu olhar, porém, nunca esteve voltado exclusivamente à cobertura política: do esporte à moda, dos palácios à favela, de ensaios portentosos a despretensiosos registros do dia a dia, Evandro foi e continua sendo um incansável historiador visual de nossa época. “Sou um fotógrafo do cotidiano”, resume, num dos trechos da entrevista que concedeu, ainda se recuperando da Covid-19, em seu apartamento na Gávea. Leia alguns momentos do bate-papo:

 

Você construiu uma trajetória única no fotojornalismo brasileiro. Qual foi o grande momento da sua carreira?

   Não sei se tenho um grande momento. Sei que tenho um bom material, modéstia a parte construí um bom acervo, que hoje está no Instituto Moreira Salles. Há vários projetos para mostrar esse material, mas a pandemia atrasou tudo. 

 

Suas fotos do período da ditadura militar viraram ícones da luta pela democracia. Você tinha noção da importância histórica desse trabalho? 

   Aquele era um momento importante para o Brasil, e minha participação era através da câmera, com meu olhar. De certa forma, era uma maneira de protestar. Mesmo que as fotos não fossem publicadas, o que era comum, eu tinha consciência de que elas eram um registro histórico, que cedo ou tarde ia aparecer. A fotografia não morre, fica para a posteridade.

Você sofreu muito com a censura?

    A gente tinha que aprender a lidar com isso, principalmente no Jornal do Brasil, o mais importante e influente na época. Era um jornal muito irônico, abria espaço para uma foto como a das libélulas na ponta das baionetas, que foi publicada na primeira página e deixou algumas pessoas do governo bem aborrecidas. Fiquei de castigo por causa dela...

O que aconteceu?

    Fiz a foto na saída de uma exposição de armas, onde também estava o então presidente, marechal Costa e Silva. A foto dele saiu dentro, pequena. No dia seguinte fui para outro evento no Palácio Laranjeiras e ele mandou me chamar. Reclamou, disse que era um desrespeito, me chamou de moleque. Argumentei que era uma decisão dos editores, mas ele mandou me deter por uma noite lá no Palácio.

Como se driblava a censura?

   Era difícil. O Alberto Ferreira, um grande editor, mandava fazer duas cópias de tudo. Uma ficava no esconderijo. Quando a gente conseguia publicar algo que desagradava, a barra pesava no dia seguinte. Tivemos vários companheiros agredidos, equipamento destruído…

Você tem uma foto que considera mais emblemática?

    Sei que tenho fotos históricas, Forte de Copacabana, passeata dos 100 mil, missa do

Edson Luis...

 

A do soldado caído da moto é bem simbólica…

    Essa tem uma história engraçada. A gente tinha ido cobrir a visita da rainha Elizabeth, e no final esse motoqueiro começou a fazer umas manobras arriscadas. Senti que ele podia cair e fiquei acompanhando. Não deu outra. Caiu e fiz a foto, um clique só. No dia seguinte ele me procurou no jornal pedindo ajuda, estava com medo de ser preso. Prestei um depoimento e livrei a cara dele. Anos depois nos encontramos, ela estava na segurança do Sarney, acabou virando minha fonte.

Algumas fotos de política realmente ficaram muito conhecidas, mas minha carreira não se resume a isso. Fiz de tudo, sou um fotógrafo do cotidiano.

Alguma te desperta um carinho especial?

    São muitas. Gosto muito da que fiz na saída de um casamento em Paraty. Uma foto simples, mas bem emblemática, e faz muito sucesso sempre que é exposta, principalmente no exterior.

Você chegou a cogitar uma carreira internacional?

   Minha carreira internacional aconteceu com as minhas fotos. Foi até uma surpresa, não imaginava que um trabalho jornalístico atingiria essa dimensão fora do Brasil. Cheguei a ser convidado para trabalhar na Itália, mas não aceitei. Sou enraizado, sertanejo.

Você começou a carreira bem jovem, ainda na Bahia. Quem era sua inspiração

na época?  

     Sem dúvida, o José Medeiros. Ainda jovem, na Bahia, fiz um curso por correspondência com ele. Foi minha grande referência.

E a expectativa para o Paraty em Foco?

Como sempre, a melhor possível. Apesar de todas as dificuldades e da falta de apoio, o Paraty em Foco continua sendo o melhor festival de fotografia do Brasil. A própria cidade é um convite aos fotógrafos, e a lista de convidados, muito interessante. Lembro de uma mesa que participei com a Nair Benedicto, uma conversa ótima, fomos aplaudidos de pé. Estou muito feliz pela escolha como homenageado. Ter o trabalho reconhecido é muito importante.

Evandro Teixerira Homenageado PEF 2022

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